O dia no que sobrou da UERJ

O dia amanheceu repleto de dúvidas para aqueles que estudam e trabalham na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Poucos tinham notícias concretas da situação após o incêndio ocorrido na tarde de domingo. Quantos andares foram destruídos? Que documentos foram queimados? Quando voltam as aulas? Essas eram apenas algumas das dúvidas daqueles que estavam na rua São Francisco Xavier na manhã desta segunda-feira.

O campus estava interditado, apenas o reitor, diretores de unidades e funcionários administrativos tinham acesso ao espaço externo e parte do interior do Pavilhão João Lyra Filho. Os estudantes estavam barrados, ninguém podia entrar. Os integrantes da TV UERJ Online, único meio de comunicação feito por estudantes da universidade, também estavam proibidos de entrar.

Após muita conversa e praticamente desistir de entrar no campus, descobrimos um acesso onde a segurança não era a mesma e entramos. Uma vez dentro da UERJ, pudemos dimensionar o tamanho da destruição nos primeiros andares do bloco F/A. Aparentemente nada poderia ter sobrado nas salas que estavam localizadas naquele ponto. Janelas estavam quebradas, paredes estavam pretas e o cheiro de queimado era forte. Em alguns pontos ainda existia fumaça.

Assim que entramos e fomos descobertos pelos seguranças, conseguimos uma autorização para permanecer no espaço exterior ao prédio. No entanto, o acesso a nossa redação estava proibido. Sem câmera, a TV UERJ Online tinha que recorrer ao seu blog para informar o que acontecia dentro da universidade.

A perícia técnica do Corpo de Bombeiros e do Instituto Carlos Éboli chegaram ainda pela manhã e começaram a relatar a situação dos andares afetados. Os boatos são diversos sobre a causa do incêndio. O mais provável diz respeito a uma obra que estava sendo realizada no quinto andar, quando uma faísca proveniente de uma ferramenta de solda iniciou o incêndio.

Após muito esperar, ouvir candidatos à reitoria, conversar com o prefeito do campus e diretores de unidades, começamos a receber informações do que realmente acontecia. Uma reunião estava sendo realizada, na qual seria definida, dentre outras coisas, o dia em que as aulas retornariam. Primeiramente, surgiu a informação de que seriam retomadas na quarta-feira. No entanto, após outra reunião, definiram que a próxima segunda-feira, dia 8, seria a data mais adequada. Uma vez que parte do prédio teve sua fiação elétrica e tubulação de água completamente destruída.

Dois membros da TV UERJ Online, tiveram acesso exclusivo à parte dos andares destruídos e puderam relatar a situação. Água ainda escorria pelas paredes e se acumulava no chão formando poças. Vidros estavam quebrados, o cheiro de fumaça ainda era forte e a destruição era quase que completa.

O reitor Nival Nunes marcou uma entrevista coletiva ao meio-dia. Curiosamente, após anos de completo descaso, todos os meios de comunicação do Rio de Janeiro estavam presentes na UERJ. Globo, Record, SBT, Bandeirantes, O Globo, O Dia, Jornal do Brasil, Povo do Rio, TVE... Todos tinham seus carros e centrais móveis de trasmissão estacionadas próximo ao campus. Ao contrário das manifestações realizadas por estudantes e servidores, dessa vez a imprensa carioca trocou as reivindicações organizadas exclusivamente por estudantes da zona sul e deram atenção ao desespero enfrentado pela UERJ.

A coletiva de imprensa teve os integrantes da TV UERJ absurdamente barrados. Algo no mínimo antagônico, pois todos os meios de comunicação tiveram acesso, ao contrário do localizado na própria universidade. Por sorte, um dos membros da equipe trabalha em um jornal e pode entrar credenciado, mas não como TV UERJ.

Na coletiva, o reitor Nival Nunes explicitou todos os problemas enfrentados pela universidade. Os sucessivos cortes de verba que impossibilitam a manutenção diária do prédio, principal motivo para ele ter chegado à situação atual. Exatamente por isso, hoje, a UERJ não possui recursos suficiente para reparar os danos do incêndio. Somente com uma liberação de verba extra por parte do Governo Estadual essas obras poderão ser realizadas.

O reitor explicou o alcance do incêndio, que destrui o três primeiros andares do bloco F/A. Nos demais andares, existiram pequenos focos que não causaram maiores estragos. A SR-1, a SR-2, Cepuerj, Proderj e Comuns foram os departamentos mais afetados. A Dinfo, ao contrário do divulgado inicialmente, não sofreu nada.

Uma nova reunião foi agendada para a manhã de terça-feira, na qual os diretores das unidades acadêmicas fariam uma avaliação dos seus respectivos prejuízos. Os estudantes, por sua vez, agendaram duas assembléias. A primeira será realizada na mesma terça-feira, às 18 horas, e a segunda na quarta-feira, às 10h30mim, ambas no portão principal do campus.

O dia terminou com um sentimento de perda. As palavras do reitor podem servir como ilustração para o que passava na cabeça daqueles que possuem uma forte ligação com aquele prédio e com aquela instituição:

"Ontem, a UERJ teve uma parte de sua história e de sua vida queimadas"

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