Em noite previsível, o Oscar consagra Discurso do Rei.















Na noite do último domingo os olhos de todos os amantes da sétima arte estavam voltados para o 83ª Oscar, realizado em Los Angeles. A noite de gala do cinema teve dois jovens mestres de cerimônia: James Franco (que também concorria ao Oscar de melhor ator por "127 Horas") e Anne Hathaway, mas se a intenção era renovar os ares da premiação, não deu certo. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood manteve a agilidade e previsibilidade que já há alguns anos permeiam a festa. O grande vencedor da noite foi o filme o Discurso do Rei.

O longa-metragem britânico faturou 4 dos mais importantes prêmios, entre eles o de melhor filme, diretor e melhor ator para o impecável Colin Firth. A história real do Rei George VI que conta com a ajuda de um terapeuta de fala para vencer sua gagueira e ajudá-lo num importante discurso no rádio às vésperas da 2ª Guerra Mundial foi muito bem adaptada para as telas de cinema num filme sem tecnicamente impecável, fruto de um rigoroso trabalho do diretor Tom Hooper. Discurso do Rei levou a estatueta de melhor filme por ser um filme cauteloso, de época, que não choca ninguém, com certo apelo emocional, uma pequena dose de humor e que no final tem aquela clássica superação do espírito humano. Pronto. Temos então a fórmula preferida da academia! Só que é só isso. Discurso do Rei não passa de um excelente filme, não chega a ser um excepcional como alguns de seus concorrentes que possivelmente, no futuro, serão mais lembrados.

A academia perdeu a chance de consagrar “A Rede Social”, que venceu o Oscar melhor roteiro adaptado e melhor trilha sonora. O longa de David Fincher mostrou como formamos uma rede sem realmente nos comunicarmos acabou provando que a Academia não quer dar o braço a torcer para um filme da era digital. A origem (que teve os mesmos 4 Oscars de Discurso do Rei só que todos em categorias técnicas), ao explorar a metalinguagem dos sonhos discutia a própria natureza do cinema. E o que falar então do ousadíssimo Cisne Negro? Este é, de longe, o mais sombrio dos 10 indicados a melhor filme e rendeu a Natalie Portman o indubitável Oscar de melhor atriz. Portman interpreta Nina, uma bailarina que entra em colapso ao buscar a interpretação perfeita no balé "O Lago dos Cisnes". Assim como sua protagonista, o diretor Darren Aronofsky (O Lutador, Requiém Para Um Sonho), chega a perfeição artística e consegue eternizar Cisne Negro como um dos maiores thrilers psicológicos de todos os tempos.

Steven Spilberg, o encarregado de anunciar o vencedor do Oscar de melhor filme, teve a grandiosidade de dizer que “O perdedor da noite se juntaria ao rol de grandes filmes que não venceram a premiação, como 'Cidadão Kane' e 'Touro Indomável'”, e é verdade, pois o próprio Spilberg viu, em 1999, “O Resgate do Soldado Ryam” perder a estatueta para “Shakespeare Apaixonado”, um filme claramente inferior.

Em 2011, Cisne Negro, A Origem, A Rede Social e até, por que não, Toy Story 3 esbarraram no conservadorismo e nas mesmices da academia e com isso, o Oscar deste ano será lembrado como um Oscar de injustiças. Ainda que poucas e subjetivas.


por João Vitor Figueira

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